quarta-feira, 27 de abril de 2016

27 de abril: Dia Nacional da Empregada Doméstica


Categoria profissional de maior concentração de mulheres no Brasil
O trabalho doméstico, um trabalho como qualquer outro? É sim! Para quem ainda não se deu conta disso, repetimos: É SIM! É um trabalho como outro qualquer e tem que ser encarado assim por todos. Estamos nos referindo a mais um esforço para garantir direitos humanos. Dá preguiça? Dá! Mas fazer o quê?
Essa é mais uma questão cultural entre nós, cuja culpa vem da falta de direitos, da falta de respeito às escolhas, da ignorância das pessoas que se acham melhores do que as outras e insuflam o imaginário popular de as empregadas (a maioria é mulher) serem pobres, sem escolaridade, sem eira nem beira. De serem  pessoas que têm que aceitar qualquer condição oferecida porque não têm outra escolha. Nasceram para ser serviçais, nasceram para ser criadas!!!!
E a tão propalada relação entre patrões e empregada! Deus do céu! Que bobagem! Quanta bobagem! “Fulana é como uma pessoa da família!”
O que é isso, minha gente? Por que fulana tem que ser como uma pessoa da família? Maria, Sueli, Juliana, Célia,.. têm que ser pessoas de direitos, elas têm que trabalhar nas nossas casas com relação de empregada e empregador(es). A relação de amizade vem naturalmente da convivência do dia a dia como são nossas relações com todos que nos cercam.
A(O) cozinheira(o), a(o) faxineira(o), a(o) babá, a(o) jardineira(o), etc. têm hoje (FINALMENTE)  seus direitos trabalhistas equiparados aos dos demais trabalhadores. Uma conquista recente que deu muito “trabalho” aos legisladores, mas, enfim, venceram!!!!! Como diz o artigo abaixo (que recomendamos a leitura), só assim, com a regulamentação de direitos coletivos é que os empregados domésticos alcançarão à dignidade de uma profissão como outra qualquer.
A luta das empregadas domésticas é parte da Plataforma Política das Mulheres do PPS. É assim, parte de nossa luta diária.
Coordenação Nacional de Mulheres do PPS
27/04/2016
Um trabalho como qualquer outro? Precisamos falar sobre trabalho doméstico
Texto de Lisandra Moreira para as Blogueiras Feministas.
Em meio ao atual clima de manifestações, lembro que há algum tempo houve uma polêmica foto de uma família (branca) que foi às manifestações com a empregada doméstica (negra) carregando o carrinho das crianças. Chuva de comentários extremistas para os dois lados.
Uma vontade incontrolável de escrever sobre isso me leva a tentar construir esse texto. Essas reflexões se iniciaram muito antes, colecionando cenas incômodas sobre o tema. Os incômodos nascem de alguns atravessamentos que tornam essa temática tão espinhosa: a diferenciação e a regulamentação recente dessa ocupação, o racismo, a desigualdade econômica, a questão de gênero e o cuidado infantil. Vamos primeiro às cenas, selecionei três:
1. Numa cena acadêmica, uma professora se pergunta se seria possível uma sociedade sem o trabalho doméstico remunerado. Se levarmos ao extremo essa afirmativa: “É impossível uma família que possui outras ocupações viver sem empregadA”, estamos querendo dizer que a vida da família de quem é empregada, é uma vida impossível, ou indigna?
2. Numa cena escolar, onde algumas crianças ao retratar a família haviam incluído a figura da babá, a professora chama atenção dizendo que elas são empregadas e não membros da família. Interessante posição para desconstruir o velho conto de fadas de que são “quase” membros da família. Entretanto, a professora finaliza dizendo que nenhuma babá está ali por escolha, mas por falta de opção, falta de formação. Se alguma daquelas crianças um dia desejou ser cuidadora de crianças naquele momento aprendeu que essa não é uma ocupação digna de escolha.
3. Nas regras de utilização de um Clube Universitário, consta a “permissão” da entrada de babás, desde que devidamente uniformizadas e sem a utilização das dependências do clube. Qual a necessidade dessa demarcação? Ou há a necessidade de uniforme e uso de EPI quando alguma mãe ou pai cuidam do seu filho (se bem que em alguns dias um protetor auricular seria salutar)?
De forma geral, há na discussão dessa temática um grande esforço por parte de quem contrata serviços domésticos de se mostrar como “bom patrão/boa patroa”. Esse esforço só acontece porque a regulamentação do trabalho doméstico equiparado aos outros trabalhadores urbanos é uma conquista extremamente recente. Nesse sentido, o trabalho doméstico não é como qualquer outro trabalho. Basta ver o quanto a PEC das domésticas causou alvoroço ao equiparar a esse trabalho os direitos já conquistados para o restante dos trabalhadores, via CLT. É somente com a regulamentação que se minimizam as diferenças individuais entre determinados patrões, porque estamos falando de direitos coletivos conquistados e não mais da boa vontade e da simpatiza de determinada família.
É preciso contextualizar historicamente não apenas a regulamentação dessa ocupação, mas a construção histórica dessa categoria. “A empregada doméstica” é na sua maioria, ou pelo menos no imaginário social: uma mulher; tem pouca escolaridade, é negra, é pobre. Essa ideia é também uma construção, mas produz efeitos. Parte-se do princípio que é um emprego que paga pouco e com tarefas que ninguém quer fazer e portanto, somente num cenário de poucas escolhas seria aceito.
Carregamos a herança de séculos de escravidão, uma ferida que não será cicatrizada, porque tentamos abafa-la, esconde-la. Há uma relação de desigualdade que é muito forte nessa relação que HOJE é uma relação trabalhista. Não é apenas um empregador e um empregado, não é o contratante de um serviço e o prestador de serviço. Ninguém deixa de escovar os dentes para ir ao dentista, mas as pessoas são capazes de sujar deliberadamente para que a empregada limpe. É nessa lógica que se enquadra a necessidade de diferenciação, de uniforme, marcando quem manda e quem obedece. Aliás, quem manda é porque pode, quem obedece é porque precisa? Não é essa a síntese da desigualdade? Numa sociedade como a nossa em que a fábula da meritocracia diz que quem tem dinheiro é porque mereceu e tem direito de mandar, logo quem não tem dinheiro merece ser mandado.
Um outro incômodo que está nessas questões diz respeito ao gênero e ao cuidado infantil. Ainda vejo muito as acusações quanto à contratação do trabalho doméstico recair sobre as mulheres. Tanto as patroas, quanto as empregadas. Como se assunto feminino fosse. Quando essa questão envolve crianças, fica tudo ainda mais complicado. O canal Porta dos Fundos fez uma crítica a forma como endeusamos as crianças hoje em um de seus vídeos. Numa das cenas, a babá apresenta o filho aos pais quando esse completa 18 anos, porque até então, os pais não sabiam o que fazer com as crianças. E por que hoje não se sabe o que fazer com uma criança? Num mundo em que todas as ações de mães e pais são analisadas e apontadas como causadoras de futuros problemas e traumas para esse sujeito, é bem complicado assumir essa função. Não a toa, as tarefas são rapidamente terceirizadas e desloca-se o bode expiatório para a boa e velha empregada doméstica.
Nesse sentido, a cena da babá com os patrões na manifestação causa mal-estar. Não são aquelas pessoas em si, que inclusive precisam ser respeitadas nas suas escolhas. São as marcas que essa cena carrega. São as cenas que cada um coleciona ao observar a forma como a relação entre empregador e empregado doméstico costuma acontecer. Definitivamente, não é um trabalho como qualquer outro.

AutoraLisandra Moreira é psicóloga, mestre e doutora em Psicologia. Gaúcha, um pouco nordestina e agora também mineira. Feminista, com mais dúvidas do que respostas.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Dia Mundial da Saúde: o desafio do sub-financiamento



Carmen Zanotto*


Neste dia Mundial da Saúde não podemos nos furtar em reconhecer os avanços do SUS ao longo desses 28 anos.

Por outro lado, nunca vivemos uma situação tão complexa quanto ao sub-financiamento do sistema, sobretudo, a partir da vigência da Emenda Constitucional nº 86.
A população brasileira está atônita com o avanço do mosquito Aedes Aegypt, a dengue, o Zika Vírus, e suas consequências, e a síndrome respiratória aguda A (H1N1), que já ceifou vidas em várias unidades da federação, inclusive, em Santa Catarina, meu estado.

Integram esse contexto a dificuldade de acesso a exames básicos como Raio-X, consultas especializadas, cirurgias eletivas, medicamentos, vacinas e procedimentos mais complexos como a garantia do tratamento do câncer por quimioterapia ou radioterapia.
Essas demandas têm algo em comum: refletirmos sobre o significado do Dia Mundial da Saúde, celebrado em 7 de abril. A data nos leva a refletir sobre o risco de colapso pela escassez de recursos que a cada dia é mais evidente e impede que o SUS seja o projeto sonhado e ainda almejado. 

Nesse contexto, há que se incluir as demandas das mulheres no sistema de saúde pública. O que se verifica, por exemplo, na questão da microcefalia são famílias se desestruturando por abandono dos pais e companheiros ante os desafios da enfermidade. 

Mulheres tem sido forçadas a abandonar o trabalho para garantir o cuidado com seus filhos, muitas vezes viajando horas e horas na busca de um diagnóstico definitivo e tratamento adequado ao filho microcéfalo.

Importa ressaltar que a maioria das crianças vão conviver com essas sequelas durante o resto da vida. Suas famílias, igualmente, deverão estar preparadas e amparadas pelo Estado para esse enfrentamento.

Por razões como essas, a logística do Sistema Único de Saúde tem que garantir o acesso integral às políticas públicas às mulheres em idade fértil, gestantes e recém-nascidos.

Logo, como relatora, estou empenhada na aprovação, em segundo turno, da Proposta de Emenda Constitucional 001/2015, por ser instrumento para diminuir o gargalo atual de sub-financiamento na saúde pública.

Ao longo das últimas décadas, a Organização Mundial da Saúde enfrentou vários desafios como epidemias de tuberculose, tétano, poliomielite e HIV.
 Acrescento a acertada escolha da OMS do enfrentamento ao diabetes para a campanha deste ano.
Essas ações são importantes para que a população aprenda a se cuidar e informe-se sobre seus direitos quando o assunto é promoção da saúde.
Mas retomo. O que une todas essas demandas é o sub-financiamento da saúde pública.
Sem mais aportes financeiros, continuaremos a nos deparar com filas na porta de hospitais, com profissionais insatisfeitos, equipamentos precários e o mais delicado: pacientes sem acesso a tratamentos adequados, diferente do que preceitua Constituição Federal, de 1988, ou seja, que a saúde é um direito de todos os brasileiros.


*Deputada Federal 

Veja os videos e acompanhe nossa atuação





Mulheres do PPS querem mais participação no âmbito politico






















O DIA MUNDIAL DA SAÚDE E A POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE NO BRASIL

Porque o dia mundial da saúde?

O Dia Mundial da Saúde ou World Health Day é celebrado todos os anos pelos 191 países membros da Organização Mundial de Saúde (OMS/WHO). Na América Latina, são sete milhões e meio de profissionais da área, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), órgão que representa a OMS no continente. A data foi criada em 1948 pela Assembleia Mundial da Saúde, foi nesta data para coincidir com a data de fundação da Organização Mundial da Saúde-OMS. O grande objetivo da criação da data seria para despertar nas pessoas a valorização à VIDA, pela qualidade de vida!!!
No entanto, no Brasil é dia de luta para que a União coloque no bolo da saúde 10% de sua arrecadação bruta. Aqui nos remetemos ao congresso Nacional para que lute junto as necessidades das brasileiras e dos brasileiros... nesse item saúde mais 10, paramos para um rico abraço em Carmem Zanotto por seu investimento pela aprovação da PEC da Saúde.
Como pensar a Política Pública de Saúde sem territorializar um determinado lugar? Sem levantar as necessidades de um deste determinado povo. Como falar de política pública de saúde sem mapear uma cidade ou uma unidade federada qualquer que seja: municipal, estadual ou federal!!!
Como falar de Política Pública de Saúde no Brasil sem adentrar a cidade e a complexidade do viver de seu povo?
Para Rubem Alves (2000), a cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. A cidade brasileira requer que a política pública seja pensada centrada nas necessidades de seus moradores. No Brasil, mulheres e homens necessitam de uma política pública clara, que possa dar conta de seus problemas setoriais, como a saúde, e que sejam estruturadas a partir da realidade e do contexto que vivem as pessoas e as famílias daquele lugar.
E qual política pública de Saúde daria conta dessa aproximação de viver um pouco melhor para todas as pessoas em todas as idades, moradoras e moradores da cidade, seja ela situada em área de campo, de florestas e metrópoles?
 O Sistema Único de Saúde (SUS), da 8ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), chamada pelo movimento da Reforma Sanitária Brasileira, com os princípios da universalidade, da integralidade e da equidade como justiça
social, e mais ainda da participação popular. Legitimado pela Lei 8.080/90 e pela 8.142/90 é de base populacional e traz como diretrizes a Descentralização, e a hierarquização que nos coloca os três níveis de Atenção como Direito de toda cidadã e todo cidadão brasileiro, a Regionalização muito bem pautada pelo Decreto 7.508/2011 e ainda como diretriz o controle social.
E como o SUS pode responder às necessidades do povo brasileiro? Focamos aqui então a construção social do SUS, este que se afirma com um arcabouço jurídico-normativo talvez o melhor do mundo, que se coloca onde as pessoas moram com suas diversidades e adversidades, que afirma ao mundo a complexidade humana.
E aí como viver a concretude do SUS?  Uma experiência exitosa....
Hoje no Brasil em Tauá, município do semiárido do sertão cearense com uma população de 55.755 habitantes (IBGE-2010), 58% da população é urbana, sua densidade demográfica é de 14hab/km2, tem PIB per capita de R$ 4.964,24 (IBGE/2010), sua extensão territorial é de 4018,188km2. A princesa dos Inhamuns, a terra do carneiro talvez de sabor dos melhores do Brasil, senão do mundo! IDH de 0,633 (PNUD/2010).
A prefeita de Tauá Cearense Patrícia Pequeno, mulher de fala simples, acolhedora de tod@s, investe na Política Pública de Saúde. Nos fez acreditar  que acredita no SUS e junto ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e outras parcerias organizou a Rede de Atenção à Saúde, totalmente pública e em momento de crise em nosso país. A Atenção Primária à Saúde (APS) do município de sua governança regula as condições crônicas como conceitua Mendes (2012). A APS de Tauá-CE, coordena por meio das Estratégias de Saúde da Família, o cuidado às pessoas-famílias cobertas por uma equipe com responsabilização. Articula às especialidades e a retaguarda hospitalar para as condições crônicas, a saúde da mulher e da criança é uma prioridade com estratificação de riscos. Em Tauá Cearense todas as profissionais e todos os profissionais fazem o SUS acontecer, é formação em Rede e aqui destaco o médico que também trabalha pela política centrada na/o usuária/usuário – a abordagem é familiar. O banco de horas funciona mais e melhor que o privado de grande parte do país. A usuária ou o usuário é acolhida/o na sala de recepção pelos profissionais inclusive pelo médico e adentra a todos os consultórios inclusive da médica e do médico junto aos profissionais.
BRASIL, VAMOS À TAUÁ-CEARÁ! O SUS FUNCIONA! AVANTE 7 DE ABRIL DE TODOS OS ANOS POR TODOS E TODAS AS GESTORAS E GESTORES DO SUS!!!

Jane Monteiro Neves
Mestre em Enfermagem. Professora da UFPA
Conselho Consultivo da Coordenação Nacional
de Mulheres do PPS