sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Mulheres negras são homenageadas na exposição

Mulheres negras são homenageadas na exposição "Dandaras" no Mucane


Divulgação Semc
Exposição Dandara
Exposição tem a proposta de dar visibilidade às mulheres negras e valorizar a promoção da igualdade racial
A luta e a representatividade da mulher negra na educação são a inspiração para a mostra fotográfica "Dandaras: Mulheres Negras da Educação", que abre para o público nesta quinta-feira (10), a partir das 18 horas, no Museu Capixaba do Negro "Verônica da Pas" (Mucane). Além disso, haverá show da cantora Monique Rocha e performance da atriz Inácia Freitas.
A exposição tem a proposta de dar visibilidade às mulheres negras que atuam no fomento da educação para as relações étnico-raciais, além de contribuir para o debate e a execução de políticas públicas da educação básica.
O evento faz parte das comemorações pelo Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e pelo Dia Nacional da Mulher Negra, instituído no ano de 1992 e comemorado em 25 de julho. A data é um marco da resistência da mulher negra contra a opressão de gênero, o racismo e a exploração de classe e tem o objetivo de dar reconhecimento à presença e à luta das mulheres negras.
A exposição "Dandaras: Mulheres Negras na Educação" é uma realização do Sindiupes, com apoio do Instituto Das Pretas e da Prefeitura de Vitória, por meio da Secretaria Municipal de Cultura (Semc) e do Mucane.

Quem foi Dandara?

As mulheres retratadas na exposição são mencionadas como descendentes de Dandara de Palmares, um ícone da história do povo negro no Brasil. Esposa de Zumbi dos Palmares, ela foi uma guerreira que lutou pela liberdade.
Sua memória, por muito tempo esquecida pela história oficial, ainda hoje é pouco evidenciada. Mas sua luta ganha novo sentido e valor a cada mulher negra contemporânea que rompe com os grilhões invisíveis do racismo e levanta a bandeira da resistência e de luta pela promoção da igualdade racial.
Serviço
Exposição "Dandaras: Mulheres Negras da Educação"
Abertura: quinta-feira (10), às 18 horas. Visitação: até 10 de setembro. Terça a sexta, das 12 às 19 horas.
Onde: Museu Capixaba do Negro "Verônica Pas" – Mucane – avenida República, 121, Centro (veja no mapa

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Trocando ideias Mulher Negra

Prezada(o),
Temos a honra de convidá-la para participar do nosso encontro Trocando Idéias.
O tema é “Mês Internacional da Mulher Negra, Latino Americana e Caribenha”, o qual ocorrerá no dia 28 de Julho, no Diretório Nacional do PPS, a partir das 17h.
Sua reconhecida trajetória e solidariedade, certamente trarão a este debate um marcante momento de aprendizado.
Igualdade 23
Confirmações: igualdade23@pps.org.br ou whatsapp 61 98525 6688

terça-feira, 25 de julho de 2017

Dia Internacional da Mulher Negra, Latino Americana e Caribenha


A data do Dia da mulher negra foi inspirada no Dia da Mulher Afro-Latina-Americana e Caribenha (dia 31 de julho), criado em julho de 1992. O Dia da mulher negra é comemorado desde o início do século XXI. Essa data também é o Dia Nacional de Tereza de Benguela, líder quilombola que viveu no atual Estado de Mato Grosso durante o século XVIII. Em comemoração, são realizadas audiências públicas, festivaissemináriosconferências e feiras, entre outras atividades, que têm por objetivo reafirmar a identidade, a história e a luta das mulheres negras brasileiras. Lembram que o Brasil foi em grande parte construído através, por cima e com sacrifício da mulher negra, que foi amababáescravaamante e prostituta para gerações de brasileiros, assim como também em vários outros países.[1] A chegada das mulheres africanas marcou a formação social brasileira. Na escravidão mulher negra sofreu uma dupla exploração, além der ser escravizada sofrendo da violência inerente a esse sistema ela foi também explorada sexualmente como amante, objeto de estupros e prostituta.[2][3][4] Além disso, essas mulheres trouxeram tradições ancestrais que influenciaram a língua, os costumes, a alimentação, a medicina e a arte, além de introduzirem métodos agrícolas, vários produtos e valores coletivos no Brasil

Apesar de corresponder a 53% dos brasileiros, a população negra ainda luta para eliminar desigualdades e discriminações. São cerca de 97 milhões de pessoas e, mesmo sendo a maioria, está sub-representada no Legislativo, Executivo, Judiciário, na mídia e em outras esferas. Em se tratando do gênero, o abismo é ainda maior. Apesar da baixa representatividade de Mulheres Negras na política e em cargos de Poder e de decisão, cada ascensão deve ser comemorada como reconhecimento. 









“Falam muito do meu cabelo. Falo que o cabelo do negro é o único que cresce para o alto, uma coroa natural, denunciando a majestade da raça!”como criar um blog





Mulheres negras reunidas no planejamento estratégico da Coordenação Nacional de Mulheres no Pará, Região Norte.




quinta-feira, 13 de abril de 2017

Mulheres na politica

Mulheres na política
No Brasil, há somente 10% de representantes femininas no Congresso Nacional. Quando por bom senso deveriam ser no mínimo 30% eleitas. A participação feminina na política ainda é baixa. Fazendo com que a maioria dos projetos que afetam as mulheres são decididos por maioria homens. A luta das mulheres por direitos já se segue a anos e continuará como uma batalha sem fim.   
Essa linha de desigualdade com as mulheres vem de casa
Distribuição de tarefas:

Histórico da lei de cotas para candidaturas femininas no Brasil
*1995: Foi adotada pela primeira vez nas eleições municipais. Reserva de no mínimo 30% e no máximo 70% para candidaturas de cada sexo;
*1997: Foi adotada para todos os cargos proporcionais;
*2009: Mini reforma eleitoral. Obrigatoriedade de comprimento da lei. Reserva de fundo partidário, tempo de televisão e aplicação de sanções para os paridos que que não cumprissem;
*2014: Primeira vez que o percentual mínimo é atingido;
*2015: Tramitação de projeto de lei que prevê reserva de 10% de cadeiras (consenso entre a bancada feminina, e recuo em relação a proposta inicial).

Ponto de vista com alguns participantes do seminário de 06/04/2017:
Jullyana Sousa DF: “Esse debate é muito importante porque a gente tem que colocar em evidencia as coisas que a gente está lutando, tem que mostrar para as mulheres que elas direitos e à está atuando dentro da política, que é um dever de todo brasileiro e nos como mulheres precisamos ir atrás de nossos direitos que tanto reclamamos. Então esse debate de hoje é para mostrar que a mulher tem que participar mais que é isso que o partido e a FAP quer mostrar.
Juliana terminou deixando uma mensagem para as mulheres brasileiras:
Participem mais, se informem mais até porque para podemos reclamos de algo precisamos está informado.

Nestor Borba. DF
Eu acho importantíssimo a mulher dentro da política, ela precisa ter mais espaço para manifestar as coisas que são especificas. A mulher além de ser mãe ela faz parte de toda a sociedade e eu considero que o espaço hoje é muito pequeno no congresso apenas 10 % das mulheres participando. Então eu defendo que a cota para as mulheres seja no mínimo 30% no congresso até chegar a 50%.
Nestor deixou a seguinte mensagem para as mulheres brasileiras:
É fundamental para as mulheres que elas desenvolvam essa percepção de importância da educação, a maioria já tem porque faz parte da natureza da feminina, mas que elas sejam ativistas!

Nathy kaspeer SP:
“Acho muito importante a política de gênero, porque abrange e expande o conhecimento para as pessoas que não entendem de política. A importância da mulher na política é muito grande, pois vivemos em um pais que têm mais mulheres do que homens. E porque se deixar dominar pelos homens? Sendo que a mulher consegue ser líder em várias coisas. Até em uma família né, ser líder de uma casa. Por que não ser líder em um parlamento. Ou como a presidenta que houve, Dilma, ou coordenação de políticas para as mulheres.
Foi muito bom o evento de hoje! ”
Nathy deixou a seguinte mensagem para as mulheres brasileiras:
“Eu acho que a mulher ela tem que se conscientizar que ela tem um poder muito grande na mão, porque ela que dá o veredito final, não é o homem. Porque sem a mulher o homem não é nada! Aquele velho ditado “por traz de um homem existe sempre uma grande mulher”. ”




Julia de Azevedo Brandão MG:
Sempre fui muito atuante, no ensino médio, representante de turma, fui presidente do grêmio estudantil, fui represente do colegiado, fui conselheira jovem do Conselho municipal da criança e adolescente. Sempre gostei da política, a melhor forma de se fazer caridade, que nem o papa falou, é na política mesmo.
É importante o debate de hoje, porque querendo ou não a mulher é vista com outros olhos, de tadinha, um olhar de que a mulher não ta em condições em lugar de poder, inferior mesmo. A mulher tem condições sim e as vezes muito mais jeito para lidar com algumas situações. A mulher precisa de ser tratada igual, sem preconceito.

Julia deixou a seguinte mensagem para as mulheres brasileiras:

Temos que tr muita força, muita garra, tem que lutar muito. Porque se não infelizmente eles passa por cima da gente. Temos que ocupar o nosso lugar. O lugar da mulher não é só na cozinha não. É na política, nos hospitais como médicas. Em carreiras de destaque. O empoderamento da mulher, ela tem talento. Sempre vamos encontra dificuldades, mas precisamos manter a cabeça erguida. Muita força de vontade e determinação.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Por que a sexualidade da mulher é tratada como questão de saúde?

Tabus e mitos colocam o prazer feminino constantemente no consultório médico. Entre exames desnecessários e falta de informação, uma nova ginecologia vem ganhando espaço

 30/01/2017 por LAIS MODELLI

A rotina é conhecida de muitas mulheres: após a perda da virgindade, inicia-se o ritual anual da visita à ginecologista. Pouca conversa e exames invasivos, muitas vezes marcados por dor, passam a ser considerados naturais, uma parte essencial  de garantir não só a saúde, mas também o bem-estar sexual. No entanto, um novo movimento de ginecologia tem questionado esse padrão que coloca o espéculo e a maca como parte essencial da sexualidade da mulher.
Antes de conhecer essa nova ginecologia, é preciso porém, olhar para trás para entender porque a sexualidade é tratada da forma como a conhecemos. É preciso olhar bem para trás, para o que seria o “início” da humanidade. Tanto na Bíblia, com a figura de Eva, como na Mitologia, com a figura de Afrodite, o corpo da mulher e sua sexualidade, respectivamente, teriam sido criadas a partir do pedaço do corpo de um homem: a primeira veio da costela de um; a segunda, do pênis castrado de um deus. A ideia de que o corpo da mulher seria uma extensão do masculino se perpetuou por muito tempo em várias áreas do saber: os ovários eram conhecidos como “testículos femininos” até o século VXII.
Desde a Grécia Antiga até o final do século XIX, por exemplo, acreditava-se que a histeria, um tipo de neurose, era uma “doença” exclusiva das mulheres. A própria origem da palavra demonstra uma falta de conhecimento, por séculos, do corpo da mulher: histeria vem do grego, “hystéra”, que significa útero.
O psicólogo francês Pierre Janet (1859-1947) e, posteriormente, Sigmund Freud (1856-1939), foram os primeiros profissionais a associar a histeria a causas psicológicas e não físicas, provando que a neurose pode acometer qualquer pessoa independente do sexo. Mas até o século XX, a histeria das mulheres era tratada com cirurgias – em algumas havia a retirada do útero –, remédios e, nos casos mais leves, com uma massagem clitoriana feita pelos médicos, que levavam as “enfermas” a um estado chamado de “paroxismo histérico”. O orgasmo feminino ainda era desconhecido e a tal massagem nas histéricas nada mais era do que a masturbação feminina, ato que pode e deve ser feito pelas próprias mulheres.
Do tratamento equivocado da histeria até hoje, muitos outros mitos sobre a sexualidade e o corpo da mulher continuam sendo disseminados. E neste contexto de tabus e desinformação, o prazer feminino se torna um assunto problemático que, com frequência, vai parar apenas no consultório médico – e raramente em outros espaços. Ao mesmo tempo em que isso pode ser problemático, historicamente, essa relação entre saúde e sexualidade foi muito importante para lidar com alguns dos mitos existentes.
O orgasmo feminino e a medicalização da sexualidade no século XXI
Disseminar mitos sobre a sexualidade feminina e fazer com que mulheres não tenham conhecimento do próprio corpo teve uma função social histórica: o controle social.
O surgimento tardio da ginecologia como uma especialidade da medicina mostra que até o século XXI a sexualidade feminina havia sido pouco explorada. No início, a ginecologia se resumia a pensar e estudar a mulher como um corpo determinado à reprodução somente.
Com o avanço da sexologia e com o surgimento do movimento feminista no século XX, a mulher passou a ser vista como agente e sujeito de prazer sexual. Métodos contraceptivos foram desenvolvidos e a saúde sexual da mulher passou a ser considerada em diversas esferas médicas e sociais.
O orgasmo aparece como indicador de bem-estar, tanto para homens como para mulheres, no século XX. A partir daí, também surgem novas categorias de patologias relativas ao sexo, novas pedagogias do corpo, novas subjetividades advindas desta realização do sujeito via sua vivência sexual e, certamente, novas estratégias de normalização da sexualidade e do prazer”, explica a antropóloga e doutoranda em antropologia, com ênfase em corpo e saúde pela UFRGS, Lara Costa Duarte.
Desde então, contudo, a sexualidade feminina e os vários mitos ainda disseminados ajudaram a formar um novo contexto: a medicalização da sexualidade. “As últimas décadas assistiram ao aumento exponencial de terapias, medicamentos, tratamentos, tecnologias e intervenções que se propõem a auxiliar as pessoas a resolverem desordens e dificuldades de cunho sexual que são traduzidas, de modo literal, em questões referentes à qualidade de vida”, pontua a pesquisadora.
 “Ao definir marcadores de normalidade bastante rígidos, a medicalização da sexualidade reforçou noções há muito cristalizadas de que a sexualidade feminina se define primordialmente enquanto mero complemento de seu equivalente masculino. Assim, se a sexualidade masculina normal é definida pela capacidade de penetração – e a disfunção sexual masculina é justamente a perda dessa capacidade –, a sexualidade feminina normal também é definida a partir deste modelo de modo que o orgasmo normal ou ideal da mulher precisa decorrer desta atividade”, critica a pesquisadora.
No documentário norte-americano A Indústria do Orgasmo, a diretora Liz Canner investiga a corrida das indústrias farmacêuticas para mudar nossa compreensão sobre o significado de saúde, doença, desejo, sexo e orgasmo. Se aproveitando dessa nova noção do que seria uma normalização da sexualidade e do prazer feminino, Canner apresenta como as indústrias estão distorcendo conceitos de saúde, doença e orgasmo feminino para desenvolver o Viagra para mulheres.
No Brasil, um dado importante sobre a relação da sexualidade feminina com a medicina é o número de cirurgias plásticas íntimas realizadas no país: somos o campeão mundial neste procedimento. Somente em 2014, 15.812 mulheres passaram pelo procedimento. Além de ser o campeão em plásticas de ninfoplastia – a cirurgia da intimidade – o Brasil também realiza as plásticas de clitoroplastia, cirurgia que reduz o volume do clitóris e aumentar a sua área de exposição.
Por oferecer um caminho mais rápido para a solução do que seriam “disfunções” relacionadas à sexualidade, Duarte explica que a medicina tem se colocado como central na vida de muitas mulheres na resolução de problemas que poderiam ser resolvidos, muitas vezes, fora dos consultórios. “Embora a psicologia também tenha um papel importante a desempenhar no que concerne o entendimento da experiência sexual, torna-se muito difícil concorrer com as soluções de efeito imediato que são frequentemente prometidas pela medicina clínica. Tudo isso compõe o cenário a que se chama de ‘medicalização da sexualidade feminina’”.
Com quem falar sobre sexo?
Segundo a ginecologista Carolina Ambrogini, especialista em saúde feminina e sexualidade, é comum a primeira consulta ao ginecologista ter como motivo a perda da virgindade e a procura por métodos contraceptivos. “Algumas mães trazem as filhas antes disso, quando começam a menstruar e ter muita cólica menstrual, mas no geral vêm quando iniciam a vida sexual”, relata a médica. “As meninas começam a vir com o objetivo de pedir um anticoncepcional, mas não veem para se informar sobre sexualidade, somente para resolver alguma coisa física ou pedir uma receita”.
A ginecologista afirma que sempre aborda a sexualidade nas suas consultas, até nos casos em que as meninas só vêm para pedir um anticoncepcional. “Mas sou especialista em sexualidade, então sei que não é comum um ginecologista, somente, falar sobre isso”. Mesmo sendo um consultório especializado no tema, Ambrogini conta que as meninas e mulheres que atende, na maioria, ainda sentem vergonha de conversar sobre corpo, sexo e orgasmo.
Para investigar como as mulheres lidam com essas questões, a reportagem da Azmina ouviu 16 mulheres entre 22 e 54 anos e de diversas profissões de formação universitária. O principal dado levantado mostrou que a falta de informações sobre sexo, sexualidade e o funcionamento do próprio corpo fez com que várias experiências relacionadas à puberdade fossem motivo de vergonha de si própria para todas as mulheres do grupo entrevistado.
A desinformação está na base desses sentimentos e confusões.
Quando questionadas sobre a primeira vez que ouviram falar de sexo, somente duas mulheres do grupo contaram ter recebido as primeiras informações dentro de casa e ainda na infância: “Eu devia ter entre 6 e 8 anos. Num sábado de manhã, meus pais chamaram eu e meu irmão, deitamos junto com eles na cama e eles nos explicaram como os bebês eram feitos. Meu pai foi desenhando num caderno os órgãos sexuais e mostrou ‘a sementinha’ que saia do papai e entrava no ‘ovinho’ da mamãe e como essa penetração era feita”, relata a fotógrafa Marina. Na adolescência, contudo, o assunto sobre sexo foi se tornando menos presente na família de Marina. “Meus pais tem a cabeça muito aberta e sempre me deram muita liberdade e independência. Mas, curiosamente, sexo até hoje é o único assunto do qual não falamos”.
Sobre as mulheres que receberam informações sobre sexo e sexualidade na escola, com professores, somente seis entrevistadas informaram que o ambiente escolar teve papel importante no ensinamento dessas questões. Vale destacar que essas seis mulheres representavam a faixa etária mais jovem do grupo, com até 32 anos.
A estudante de letras Maria Carolina Lima, 22, conta que recebeu orientações sobre sexo e reprodução dentro de casa, mas o assunto não chegou a se estender para sexualidade. “Minha mãe e minha madrinha começaram a falar comigo sobre prevenção da gravidez quando eu comecei a menstruar, aos 10 anos”, conta. “Na escola, lembro-me de uma única vez, na sétima série já, em que tivemos aulas sobre sexo, preservativos e menstruação. Mas foi somente essa vez. Agora, algo que nunca ninguém me deu informação, em casa ou na escola, foi sobre masturbação”. Tanto a universitária, como a maioria das mulheres do grupo, citou que, por nunca ter recebido informação sobre masturbação na adolescência, acreditava que o ato era “não natural para meninas”, “algo sujo” e “errado”.
O prazer no consultório médico
A dificuldade para lidar com o tema da sexualidade se estende também para o consultório médico: 11, das 16 entrevistadas, responderam que a primeira consulta com um ginecologista teve como objetivo iniciar o uso da pílula anticoncepcional; mas 8 mulheres responderam que a relação com o ginecologista atual é distante e sem liberdade para conversar.

Maria Carolina conta que a primeira consulta ao ginecologista, cujo o motivo era o início da vida sexual, foi tranquila e recebeu um bom atendimento, mas mesmo assim não confia em todo profissional. “Não tenho vergonha de me informar no consultório médico, mas já decidi que se o ginecologista decide emitir opiniões pessoais e não leva em consideração meu bem-estar emocional e o que eu quero do meu corpo, ele não serve para mim. Infelizmente, há muito médico, não só ginecologista, que perde mais tempo tentando aplicar a moral dele em você”, relata a universitária. “Quando eu tinha 17 anos, precisei fazer uma cirurgia para remover o apêndice. Ao chegar com dor no hospital e relatar que era no baixo ventre, o primeiro médico que me atendeu insistiu que eu deveria ou estar com dor de cólica ou com alguma DST. Disse que era virgem, de fato eu era na época, mas ele insistiu dizendo que eu não precisava mentir só porque estava com minha mãe. Precisei insistir que não havia como eu ter uma DST, já que nem beijo eu tinha dado na vida, para ser atendida”.
Além da sexualidade, também há falta de conhecimento dos profissionais de saúde sobre as diversas orientações sexuais identidades de gênero. “Esse panorama piora se falamos nas identidades de gênero. É comum um ginecologista que não é especializado em sexualidade confundir os termos ‘trans’, ‘travesti’ etc, por exemplo”, explica a ginecologista Ambrogini.
Nesse contexto, segundo a Médica de Família e Comunidade, Luíza Magalhães, mulheres que não correspondem ao padrão héteronormativo também podem enfrentar uma barreira a mais nos consultórios. “A maioria das pacientes que se relacionam com outras mulheres se queixam que, ao dizerem que são sexualmente ativas aos seus médicos, os profissionais assumem que, necessariamente, essas relações são com homens”, relata Magalhães, que faz parte do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, uma “Organização Não Governamental, que desenvolve desde 1981 um trabalho com especial foco na atenção primária à saúde das mulheres, a partir de uma perspectiva feminista e humanizada”. Segundo a médica, existe uma dificuldade em enxergar a mulher como um sujeito que deseja e pode fazer escolhas, inclusive com relação a sua sexualidade. “Ainda é comum que se espantem que mulheres podem desejar outras mulheres, enquanto que, com homens, o espanto com a homossexualidade é menor”, conta.
Magalhães explica que mais que um preconceito, a falta de atenção do profissional com pacientes lésbicas pode ser um fator prejudicial à saúde dessa mulher. “Quando a mulher consegue dizer que se relaciona com mulheres, é comum que seja tratada como virgem. Por isso, muitos profissionais deixam de realizar o exame ginecológico quando indicado ou deixam de colher o Papanicolau, o que coloca as mulheres que se relacionam com outras mulheres à margem do cuidado em saúde adequado, retardando a realização de exames e diminuindo a chance de atuar preventivamente”, explica a médica.
A internet como alternativa
Nesse cenário de distanciamento entre paciente e médico, a internet surge então como alternativa para muitas mulheres, uma fonte de informação com as quais se sentem mais confortáveis para esclarecer as dúvidas e trocar ideias.
A educadora física Emilie, por exemplo, conta que hoje se informa pela internet. “Todas as minhas dúvidas são respondidas através do grupo que participo no Facebook e também conversando com minhas amigas. Sinto que todos os médic@s a que fui estavam ali apenas para falar o necessário e sobre hormônios e nada mais”. E não só ela: dez das entrevistadas responderam que atualmente se informam sobre métodos anticoncepcionais, hormônios e sexualidade muito mais na internet e com aplicativos do que com profissionais da área da saúde ou dentro da família.
Para Ambrogini, buscar informações somente online, contudo, pode ser preocupante. “As mulheres se informam de maneira errada às vezes, pois, no Brasil, temos muito pouco de educação sexual nas escolas e dentro de casa. Mas muitas mulheres têm vindo ao meu consultório para tirar dúvidas sobre o que leram na internet e este é um comportamento muito legal”, explica.
 Uma nova ginecologia 
O comportamento de frequentar um ginecologista somente para pedir a prescrição de um remédio ou a indicação de um método contraceptivo, para Ambrogini, também é reflexo do comportamento de profissionais da área da saúde que, por não estarem preparados para conversar sobre sexo e sexualidade com as mulheres, não conduzem um atendimento sob uma perspectiva de gênero, mas somente por uma perspectiva clínica.
“Na minha residência médica em ginecologia não havia nada voltado para sexualidade e é assim nas residências do Brasil: não existe formação em sexualidade e as que oferecem algo na área, ainda são muito precoces. Nas faculdades de medicina, as disciplinas sobre sexualidade também são muito incipientes. Apesar desse tema ter evoluído bastante nos cursos nos últimos tempos, a verdade é que se o profissional quer se informar sobre, ele mesmo tem que ir atrás dessa formação”, afirma a médica, explicando que é comum a sexualidade ser matéria apenas optativa nas faculdades que oferecem a disciplina.
Ambrogini cursou a segunda turma de especialização em sexualidade da Universidade de São Paulo e, ao final do curso, em 2005, montou o Projeto Afrodite, no Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo. O objetivo do projeto é o de fornecer informações sobre sexo e sexualidade às mulheres, desde o reconhecimento do próprio corpo até orgasmo e prazer nas relações sexuais. Além dos médicos, o Projeto Afrodite conta com fisioterapeutas e psicólogos.
A diversidade de profissionais em variadas áreas que atendem no Projeto Afrodite também pode ser visto no Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde. Segundo a médica da Família e Comunidade Nathália Cardoso, é importante apontar que, não necessariamente, o médico que aborda a sexualidade de mulher é um ginecologista. “No Coletivo, por exemplo, a maioria das médicas são generalistas em atenção primária à saúde (Médicas de Família). A conduta que questionamos não é exclusiva de ginecologistas, é algo que começa no início da formação médica, muito antes da escolha da especialidade”, explica a médica.
Segundo Aline Oliveira, Médica de Família e Comunidade, “O termo ‘rotina de exames’ já parece condicionar a mulher à dependência das intervenções médicas. No entanto, a atenção com o corpo, conhecer as estruturas genitais, aprender o que é normal e o que é alteração no corpo feminino, são a melhor resposta ao que podemos chamar de ‘rotina’”.  “O que é surpreendente é que são poucos os exames sugeridos e na maior parte das vezes somos submetidas a exames e avaliações desnecessárias”, explica Oliveira.
A médica explica quais são os exames essenciais: “O papanicolau está indicado para mulheres a partir dos 25 anos, que já tiveram relação sexual. O exame deve ser repetido anualmente e, com dois exames normais, a rotina passa a ser a cada três anos. A mamografia está indicada para mulheres acima de 50 anos e deve ser repetido a cada 2 anos”, esclarece Oliveira. “Já os exames de sangue são indicados para as mulheres e homens, independente da idade, que consideram ter sido expostos a risco (sexo sem camisinha, por exemplo). Essas são as sorologias de doenças sexualmente trasmissíveis: HIV, sífilis, hepatite B e C”.
“Outros exames podem ser necessários e bem indicados presença de sinais, sintomas, histórico familiar ou fator de risco. Aqui entram, por exemplo, os rastreios para diabetes, hipertensão, dislipidemias, osteoporose e câncer colorretal. Nenhum deles deve ser pedido para todas as mulheres indiscriminadamente e fora do intervalo recomendado. Vale lembrar que ultrassom de mama, tireóide ou transvaginal de rotina, em mulheres saudáveis e assintomáticas, são contraindicados”, complementa a médica Cardoso.
No que diz respeito a ginecologia, para Ambrogini, é preciso que os consultórios passem a promover um atendimento diferente. “Seria essa uma ginecologia capaz de fornecer informações para que as próprias mulheres pudessem se conhecer, ter domínio do seu próprio corpo e serem livres para escolher o melhor método contraceptivo que mais lhe convém. Mais que isso, uma ginecologia que abordasse a sexualidade sem preconceitos, que fizesse as mulheres não terem mais nojo da própria vagina e suas secreções para que se sintam empoderadas com o seu próprio corpo”, defende a ginecologista. “O nosso corpo fala, mas para escutá-lo precisamos conhecê-lo”.
Oliveira explica que as consultas invasivas possuem vários fatores: a falta de escuta, a falta de tempo do profissional no atendimento, a falta de vínculo e a imposição da vontade médica sobre a vontade da mulher que está sendo atendida. “Nesse contexto, quando a mulher está tensa e já se sente violentada por não ser sujeito de seu atendimento, a chance do exame ser dolorido aumenta. Além disso, o desconhecimento do próprio corpo e do processo do exame (como é, que partes visualiza, que materiais são usados) pode tornar tudo mais difícil”. A médica conta que, pensando em evitar esses desconfortos e promover um atentimento feminista, a proposta no Coletivo é que a mulher realize o auto-exame. “A mulher é parte ativa do processo, conhecendo o próprio corpo e realizando cada passo do atendimento em seu próprio ritmo, o que aumenta confiança e diminui a dor. As mulheres relatam maior conforto quando elas mesmas introduzem o espéculo (aparelho usado para exame interno da vagina e coleta do papanicolau) e sentem-se confiantes ao participarem do exame observando o próprio corpo com um espelho”, relata.
* Você sabia que pode reproduzir tudo que AzMina faz gratuitamente no seu site, desde que dê os créditos? Saiba mais aqui.
SOBRE @ AUTOR@: LAIS MODELLI
Laís é ativista, jornalista e mestre em Comunicação Midiática, especializada em feminismo e cibercultura. É criadora da página Nem Uma Mulher Mais e escreve grandes reportagens sobre gênero e política para a revista Caros Amigos desde 2012. Foi correspondente internacional no México e tem muito apreço pela história das mulheres latinas. Sonha em ser escritora um dia.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

COORDENAÇÃO ESTADUAL DE MULHERES DO PPS


por Cathy Quintas  

Referente ao ocorrido na câmara municipal de Londrina!

Prezad@s, é com profundo pesar que assistimos a  expressões de apoio a atitudes discriminatórias e que são classificadas como meras "brincadeiras".
Não se trata de "mimimi" - como gostam de desqualificar alguns -  mas de se posicionar contra atitudes ultrarreacionarias que vem tentando deslegitimar décadas de lutas das mulheres por igualdade de direitos e por respeito à dignidade dos seres humanos.
Nas "pequenas" atitudes do quotidiano, assim como nas "inocentes brincadeiras" é que se reproduz o discurso da discriminação e da "naturalização" da opressão contra os que defendem a equidade de direitos.
Todo apoio ao texto de Elza Correia.  Liberdade de expressão não é autorização para reproduzir discursos machistas, autoritários e discriminatórios em geral.
Em nome da Coordenação Estadual de Mulheres do PPS , registro repúdio à criação de factoides políticos  - moção de apoio a estagiário - que visam única e exclusivamente reproduzir formas de opressão e discriminação odiosa, além de dar "visibilidade" aos que se apresentam como representantes de uma  falaciosa -  posto que inconstitucional,  utilizada para propagar discriminação -  liberdade de expressão.


Clique aqui para entender o caso