sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Serie: Negras 23 - Sou Eu


Karla Sousa Coord. Nac. de Mulheres JPS Brasil

Sou mulher negra, sou mulher pobre, sou feliz e daí?! Incomodo por ser assim?! 
Queria entender porque o meu lugar determina o meu EU?! Porque tantas vezes o meu barraco cedeu ?! Quem sustentava minha fome de VIDA ,  não era eu?! 
Vou à luta, me viro como posso, o pão nunca faltou! Os meus entes estão comigo no abrigo de minha dor e amor de cada dia! 
Sofro e enfrento o machismo simplesmente por existir, ser mulher é desafio, ser mulher negra e pobre é uma missão! Fugir pra onde, se muitas vezes sinto na alma essa dor provocada pelos que dormem no meio seio?! 
Nas ruas e lugares combato os olhares covardes do preconceito, minha pele estampa para muitos a inferioridade de alguém  que só serve para limpar a casa dos brancos, engraxar os sapatos dos executivos ou ninar os filhos da classe A. Da cozinha para as passarelas, da senzala para as salas de aula, da escuridão da opressão para a luz da esperança que enseja dias melhores! Quanta luta  empreendida para ser vista como gente, quanta lágrima caída para ser tratada como gente, quantos gritos  e punhos cerrados para ser vista não menos que GENTE que sente, que pensa, que sonha… 
Na raíz do pensamento convencional desta sociedade existem ainda coisas de mulher,” porquê? 
Até quando há de se esperar que mulheres condicionem seus passos e sua escolhas  ao âmbito do lar, das arrumações e da comida pra servir? Se a faz  feliz, que seja assim! Mas que a cada uma caiba a possibilidade de não saber e não querer fritar nem um ovo, assim como destilar palavrões “à moda” da casaQue sejamos mulheres que  mudem o   “cotidiano” da canção de Chico… 
Embruteço quando devo, sou forte quando possoSou mulher, senhora do meu corpo, se coberta ou nua, se freira ou puta, hei de ser respeitada pelo que sou, não sou mulata para gringo ver, meu rebolado eu faço no jogo da vida, pra mostrar que o peito cai, que a bunda também e que ainda sim sou eu, é meu… 
Que sejamos mais “ Pagu”, quero requebrar os quadris e o cérebro também! Afinal já dizia a Rita Lee: “Nem toda brasileira é bunda, meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem”… 
Quero amar do meu jeito, por inteiro, sentir o que for…pelo menino ou pela menina…é o amor, o que convém! Seja ele meu igual, seja ele como for, quero vê-lo despido de preconceito, quero tê-lo rico ou pobre, quero SER por inteiro…venha o que vier, quero ser EU mesma com a marca da minha COR! 
Que sejamos a “Maria Maria” do Milton Nascimento… “aquela mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta” !!! 

Karla Sousa Pereira  

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